Escrito por F. Boehl e Phelipe Cruz Teste ::Que personagem do inter:urbanos você é? Os 7 pecados inter:urbanos ::Ira ::Orgulho ::Inveja ::Avareza ::Luxúria ::Preguiça ::Gula
:: Todas as histórias aqui contadas são totalmente fictícias. Nenhum homem, mulher (obeso ou não), transexual, homossexual, heterossexual, alternativo, adolescente, senhora de meia idade ou ninfomaníaca foi morto ou ferido durante a produção deste blog. |
Erika sempre reavaliava sua vida na véspera do ano novo. Pesava todos os seus sucessos e fracassos numa balança imaginária enquanto assistia ao Reveillon do Faustão.
Ficava olhando para a figura rotunda do apresentador e pensando no que havia de diferente entre os dois. Ambos eram gordos e mal-humorados. Faustão, contudo, era bem-sucedido. Erika queria ser como ele. "Com dinheiro se consegue o que quer". Mas não era só dinheiro que lhe faltava. Queria também amor. Amor era a coisa mais importante do mundo. Sem ele, o mais rico dos homens não passava de um miserável. Pensava também na estupidez do apresentador ao se casar com uma mulher que o via como uma imensa e recheada carteira. "Fausto não é só uma máquina de fazer dinheiro. É um ser humano lindo e merece nosso respeito e carinho". Achava que ele precisava de uma mulher como ela. Imaginou as mãos gordas do Faustão percorrendo suas coxas brancas em busca de seu sexo. Erika havia gozado no final da contagem regressiva do programa. Perdida em seus devaneios eróticos, não percebeu que estava se masturbando com uma garrafa de champanhe, que ficou entalada, intacta, em sua vagina. No hospital, por mais que os enfermeiros puxassem, a garrafa não saía. Tiveram que bipar o médico plantonista. Doutor Jorge, também gordo (e mal-humorado por estar trabalhando durante a virada do ano), pegou um martelinho e com um toque no lugar certo, quebrou o fundo da garrafa liberando toda a pressão. Quando a espuma toda explodiu como um brinde atrasado, o médico não se conteve e gritou: - Ô loco, meu! Erika sorriu. Algo dentro de si, dizia que 2003 seria um grande ano. - Eu queria tanta usar um vestido justinho branco nesse reveillon!
Mariana era magra, mas tinha barriga. Sua mãe, consciente, tentava evitar o vexame: - Ah, minha filha. Usa aquela jaquetinha. Fica tão bem. - Ah, mãe. Não fode! Além de magra e barriguda, a garota também era mal-humorada. E teimosa. Saiu da loja com um vestido mais justo que Jesus. Quando saiu do provedor, as vendedoras se reuniram no canto para rir. Algumas apontaram, para que a gerente soubesse de quem se tratava. - Parece uma laranja dentro de uma meia. Mariana queria conquistar Fabrício a qualquer custo. O garoto era lindo, apesar de meio veado. Não tinha dinheiro, mas morava com a avó numa cobertura na Avenida Atlântica. Ela tinha que conquistá-lo de qualquer jeito. Aquele ano novo seria sua chance. Precisava estar linda, sedutora. Acima de tudo, precisava embebedá-lo. Mas como fazer? O garoto odiava bebida alcoólica. Na noite de ano novo, a armadilha estava preparada. Mariana havia misturado vodka em todos os pratos da festa. Até a lentilha tinha vodka. Deu meia-noite e a garota empurrava bebida goela abaixo de todo mundo. Terminaram todos bêbados. Até Dona Carmela, a avó de Fabrício, que tinha mediunidade desenvolvida, acabou incorporando a Iemanjá. Na manhã seguinte, o garoto acordou ao lado de Mariana. Os dois nus. - Nossa, Mariana, que barriga enorme você tem! - Nós transamos. Estou grávida, seu crápula. Fabrício ficou apavorado. Ergueu-se e começou a pular sobre a barriga da garota, que acabou vomitando toda a lentilha. Tudo na vida de Joan era opaco. Sua vida não tinha altos e baixos. Seu drama era não ter nenhum drama. Nada acontecia em sua vida pacata de classe média americana. O marido pagava as contas, a comia semanalmente e era um bom pai. Os filhos tiravam notas boas na escola e não se metiam em confusão.
- Eu não quero vocês usando drogas. - Mas, mãe, a gente odeia drogas. - Não interessa. Eu não quero e pronto. - Mas mãe... - Já para o quarto! Depois dessas brigas sem sentidos, Joan se trancava no quarto e chorava. Depois de meia hora, levantava, ligava seu laptop e entrava na Internet. Ela tinha uma web cam e chorava pelada diante de seus interlocutores. Alguns se masturbavam ao vê-la se desmanchando em lágrimas. Depois de um certo tempo, ela percebeu que poderia ganhar dinheiro com isso. Passou a cobrar acesso para seu web site, batizado de cryingfatchick.com. Com o dinheiro veio também a culpa. Como ela, uma mãe de família exemplar, uma dona de casa perfeita e esposa amantíssima, conseguia se despir diante de desconhecidos para satisfazer suas mais estranhas perversões? Sentia-se uma puta barata e vulgar. Com o coração dolorido de tanta culpa, chorava ainda mais copiosamente. Agora Joan tinha um verdadeiro drama. E estava contente com isso. O Natal de Janaina "Todos nós precisamos de nosso espaço no mundo". Janaina conversava consigo mesma enquanto contemplava da janela da cobertura do Leme, a imensidão do Atlântico. "Eu sou tão pequena diante da grandeza desse mar. Não sei porque me deprimo. A natureza é sempre maior que nossos pequenos dilemas". Acendeu um Derby, deu uma profunda tragada e suspirou liberando pequenos círculos de fumaça azulada. "Quem sou eu nesta vida"?
- Você tá aí falando sozinha feito uma louca e deixou a porra do arroz queimar, Janaina. O momento de contemplação oceânica fora interrompida por Liana, a filha adolescente da família Almeida Carvalho, para a qual a empregada trabalhava há mais de vinte anos: - Calma, querida, eu faço outro. Tem horas que a gente precisa se encontrar no mundo. - Se encontra no fogão, senão ninguém come hoje, ok? Aquele era um natal especial. A família finalmente havia deixado a Ilha do Governador. Seu Almeida agora era vereador. Dona Rosa queria ostentar a nova fase econômica da família. Chamou para a ceia tios, vizinhos, políticos e parentes importantes do Leblon, que normalmente ignoravam os convites. A dona da casa dava os últimos retoques na decoração da casa e dos filhos, brigando para escolher a roupa adequada. Volta e meia ia até a cozinha para checar o trabalho de Janaina. - O que tá havendo contigo, criatura? Está toda aérea hoje! Essa comida já era para estar pronta! - São aqueles dias em que você tem uma sensação de despertencimento desse mundo. - Sei, sei. (A patroa finge que presta atenção). Falando nisso, a cabeça do peru não pertence ao prato. Quer tirar essa coisa nojenta daqui? Onze horas e as visitas começavam a chegar. Paulo saiu do quarto com a sua regata predileta mostrando os braços cheios de tatuagem. Recebeu o olhar reprovador da mãe, que havia separado uma camisa de botão. Janaina começou a servir. Já estavam todos sentados à mesa. Menos a filha caçula. - Gente, onde esta Liana? Com licença, podem começar sem mim. Dona Rosa abriu portas, banheiros e nada de Liana. Percebeu que ela poderia ter fugido de novo para a casa do namorado da ilha. - Aquela praga sempre voltando praquele muquifo. Será que ela não percebe que nós não somos mais suburbanos? - Sabe, dona Rosa, às vezes a busca pelas raízes, pelo passado é a chave para nosso futuro. - Janaina, me faz dois favores? Um: cala a boca. Dois: vê se o carro está ainda na garagem. E foi isso que Janaina fez. Passou pela portaria e encontrou Liana, com a calcinha arreada, arfando embaixo do porteiro. - Liana, isso é hora para fazer isso? - Sexo era uma coisa que não fazia parte da vida da empregada desde que saíra, ainda adolescente, de Volta Redonda. - Sai de cima dela! - Janaina puxou o porteiro pelas cuecas e levou a menina, que se vestiu enquanto o elevador subia. O clima já estava pesado. Todos já tinham levantado da mesa. Janaina corre, arrastando a menina para o banheiro, para que ela acabe de se arrumar. Encontra Paulo, o filho do meio, comendo uma prima na pia: - Paulo! (as duas gritam ao mesmo tempo) - Porra, fecha a porta! Janaina estava nervosa. Precisava de um cigarro, precisava ver o mar, sentia-se velha, sozinha. A família já não era a mesma. As crianças haviam crescido. Dona Rosa, antes uma amiga, agora a tratava com frieza. A empregada correu para a sacada. Passou pela sala como um raio. Desviou de cadeiras, mesas, mesinhas, peruas, engravatados, subiu as escadas tropeçando, atravessou o terraço, passou pela churrasqueira, pegou impulso e se jogou do vigésimo andar. - Este momento parece uma eternidade. A morte não é um fim. É um novo começo. Enquanto despencava em direção à morte, podia ouvir a voz desesperada de Liana gritando: - Janaina, sua puta! Você não fez as rabanadas!! Vestidos, coca-light e bala - O que você acha? (Suzana sai da cabine perguntando sobre o vestido azul)
- Legal! - Ricardo, até agora você só usou 3 palavras para meus vestidos: legal, tá bom e bonito. - Quantas você quer que eu use? - Não é isso, Ricardo. É que eu quero uma opinião mais profunda para me ajudar na escolha. E você não coopera! A funcionária da boutique tenta ajudar: - Eu achei o vermelho mais bonito, mas esse ficou com um caimento fabuloso. - Você fica quieta! - Que isso, Suzana? Precisa tratar ela assim? - Tá se preocupando com ela porque? Quero que você se concentre nas roupas. Afinal quem vai pagar é você. Se eu comprar e depois não usar, quem vai gastar dinheiro à toa vai ser você. Percebe que não é um assunto só do meu interesse? (vira-se para a menina da loja) E você traz aquele branco com o decote na perna. Suzana entra na cabine pela vigésima vez. O marido e a vendedora se entreolham rapidamente. A mulher sai da cabine: - E esse, Ricardo, o que acha? - Maravilhoso! Esplêndido! Nossa, que caimento. Que cor! Que vida que deu pra você! Ficou simplesmente lindo! O eco das palavras de Ricardo ficou no ar. Ninguém falava nada depois do comentário dele. Suzana ficou olhando para ele fixamente. Pra ele e para a funcionária. - Ricardo, você é um zero à esquerda. (vira-se para a funcionária da loja e fala) Sabe o que é o pior disso tudo? Além de ser uma anta, acaba de ser demitido por fazer fofocas e falar demais no trabalho. No trabalho, é perfeito nos comentários. Mas quando é pra mulher dele, só vem besteira e palavras que não acrescentam nada. Sai daqui, Ricardo. Vai comprar uma coca light pra mim. Toma essa merda! (joga a bolsa no colo do marido) Ricardo sai vermelho da loja. Vermelho de raiva e vergonha. Depois de 10 minutos tentando esfriar a cabeça, retorna. Sem a coca light. A funcionária avista Ricardo pisando forte e vindo para as cabines. Ia abrindo todas as cortinas com força, tentando achar a mulher. Leandra, a funcionária (aliás, toda coadjuvante merece um nome) aponta para a cabine encostada na parede e cochicha "tá naquela ali". Ricardo abre as cortinas e a mulher nua se espanta: - Que isso? Deixa a porra da coca lá que depois eu tomo. Eu tô pelada, não tá vendo? - Eu não trouxe a coca. - E isso só diz uma coisa. Nem emprego de garçom você pega agora. Trouxe uma coca normal, pelo menos? - Também não. Mas trouxe isso. Vinte minutos depois, a polícia cercava a boutique de Ipanema com fitas amarelas e cobria o corpo da mulher nua, com três tiros na testa, tentando evitar o olhar dos curiosos. Leandra, que não conseguia esconder o sorriso no canto dos lábios, disse para a imprensa: Ela tinha o quadril largo demais. Nenhum vestido ficava bom. Suzana era a menina mais linda do Novo Leblon. Loira olhos claros e um belo sorriso. Cintura, peito, bunda, tudo no lugar. Sempre foi uma aluna nota sete, nunca sendo acusada de burra ou CDF. Não era puta nem santinha. Era simplesmente... perfeita.
Perfeito também era o seu namorado Rodrigo, o típico genro que toda a mãe pediu a deus: rico, bonito, de família tradicional católica, estudante da PUC. E marcava um novo rumo no histórico de namorados da menina; que já tinha ficado com jogadores de futebol, maconheiros vagabundos e seguranças de boate. A família de Suzana, que passava por momentos de brigas e confusões, tinha voltado a se reunir à mesa, na hora do almoço. Rodrigo trouxe ares de esperança e novos rumos. A empregada sorria toda boba quando trazia o almoço. O garoto dizia: "Delaci, eu adoro o seu arroz com feijão". Rodrigo, na cama, era bem heterodoxo. Não gostava do sexo convencional. Pedia para a Suzana fazer absurdos. Ela aceitava: "Afinal, qual o problema? Ele faz é comigo..." O garoto trazia fitas pornôs e imitava tudo com a namorada. E reclamava quando esta não fazia os gritos e as caras direito. Da última vez que transaram, quis cagar na boca da Suzana. A noiva não gostou muito da idéia, mas foi convencida de que no motel tinha pasta de dente e que ela poderia lavar a boca depois. Não custaria nada. E assim, ela fez. Quando as amigas reclamavam do papai-e-mamãe de seus namorados, ela falava que sonhava com este momento. Elas não sabiam o quanto aquilo era precioso. Dizia que Rodrigo inventava todos os tipos de posições e buracos, que ela chegava a ficar com medo. Numa segunda, voltando da faculdade mais cedo, entra na casa e encontra o namorado em cima da empregada. Fica branca. Rodrigo fazendo sexo convencional com aquela mulherzinha. Chegava até de chamar de "meu amor". - Rodrigo, seu filho de uma vaca - Suzana explode - por que você não transa assim comigo? Eu também quero o feijão-com-arroz! Delaci intervém: - Ai, patroa! Vai no freezer e se serve! Essa mulherada da Barra não sabe fazer nada sozinha! - Eu não quero passar o Natal com vocês!
- Mas que abuso eu ter que ouvir isso, meu filho. - Mas é a verdade, mãe. Vocês são chatos, controladores, perguntam demais, cobram demais. A comida da ceia nem desce direito. Vocês são infelizes e tudo que não fizeram ou não souberam fazer, acabam querendo que eu faça. Não pensam na minha felicidade. São egoístas e só pensam no que os outros vão dizer de mim. - Mas da onde você tirou isso, meu filho? - Eu venho de uma família de médicos de uma classe média privilegiada e escolhi como profissão ser webdesigner. Eu sei que isso machuca vocês. - Mas meu filho, mexer com computador pode não ser um grande mérito assim como abrir o peito de alguém para mexer em órgãos, mas eu respeito. - Tá vendo? Não vou passar merda de natal nenhum com vocês. - E onde você pretende passar? Com outra família? Nem namorada você tem. - Tá vendo? - Mas eu to falando mentira, Tiago? - Não, mas tá cobrando. - Não é cobrança. É o que se espera de qualquer garoto com 22 anos de idade. - E o que se espera de uma mãe de 50, é uma vida. E a senhora não tem mais uma. A sua vida é controlar a dos outros. - Tiago, respeito! - Sabe mãe... de repente, eu acho que estou indo pro caminho errado. Eu sempre senti vontade e interesse no desenho e confecção de sapatos femininos... - Você está de brincadeira, né? Já não chega ficar fazendo deseinho em computador? Já não chega você usar calça na praia? Já não chega você comprar discos da Kelly Key? Eu vou cortar sua mesada. - Ah é? Então eu volto a me prostituir na Avenida Atlântica! - Ok, mas vai com tuas roupas! Nas minhas você não toca mais. João estava cansado da vida. Aos 28 anos ainda morava com a mãe, não tinha um emprego decente e nenhuma namorada. Sentia-se um fracassado, um loser. O que fazer? Ele não tinha ânimo para nada, nem para chorar. Sua vida consistia em horas deitado diante da TV zapeando por canais sem achar nada que lhe interessasse. Não tinha amigos, os colegas de trabalho eram malas piores que ele. João se sentia num beco sem saída. Não via perspectiva, futuro, alternativa. Depois de uma noite de insônia decidiu que daria cabo em sua vida. Sentou-se diante do micro para escrever uma nota de adeus. Bateu uma preguiça e ele resolveu ficar jogando Tetris. A boceta era a sua arma. Era o seu meio de comunicação. Era a única coisa que Marcela tinha para oferecer. Fez a maioria das amizades assim. No trabalho e na faculdade. A maioria com homem, óbvio. Não se dava bem com as meninas. Estas eram bonitas, falavam de roupas e coisas que ela não vivia. A amizade com os meninos foi fácil. Sentia-se confiante o bastante para bater um papo. "Eles podem até não gostar de mim, mas vão adorar minha racha", pensava Marcela. O engraçado é que ela não era correspondida (ela, a boceta).
Confiava e se orgulhava dela. Ia sem medo porque sabia que carregava o desejo de todos no meio das pernas. Os meninos se espantavam. O que ela oferecia de graça, normalmente se conseguia com muito custo. Fabrício, um colega do trabalho, no meio da roda de amigos, tentava entender: "aquilo deve estar estragado, sei lá...ninguém dá fácil assim". Marcela deu mole para a faculdade inteira. Ninguém se interessava. Tentou no trabalho. Mas lá todos eram profissionais e não se arriscariam com qualquer menina de fácil acesso. Naquele sábado, Carmem passou em sua casa. Tinha a masculinidade que ela precisava para se sentir confortável e não dizia a conversa fiada das meninas que tanto desprezava. Transaram. Já estavam namorando há mais de três anos. Os colegas do trabalho sentiram novos ares no olhar de Marcela. A garota estava feliz, simpática. Seus olhos não mais os assustavam. Fabrício, na segunda-feira, convidou a colega para sair de noite. Não pensou duas vezes. Colocou a camisinha na pochete e foi. Mariana era uma menina de família até conhecer Rodrigo. Não que o namorado a tivesse levado para o mau caminho. Calma que eu já explico.
Desde pequena, a menina do Grajaú sempre obedeceu a seus valores. Educada pela mãe e pelo pai com cobrança exagerada, aprendeu a seguir o melhor caminho e escolher as melhores companhias. Além de tudo, era uma menina linda. Tinha um sorriso que levava a imaginação dos meninos bem longe. E foram todos estes atributos que fizeram com que Rodrigo se apaixonasse por ela. O namoro era perfeito mesmo que Mariana deixasse de ver o namorado durante semanas por causa de provas na faculdade. Apesar de Rodrigo reclamar bastante, aquilo lhe fazia sentir que tinha escolhido a garota certa. Um ano de namoro se foi e Mariana já era convidada de honra da família do garoto rico da zona sul. As irmãs e as primas de Rodrigo, que já tinham trepado com a maioria do bairro, adoravam a menina. Raquel, irmã mais nova de Rodrigo, era lésbica. Respeitava a namorada do irmão e este também respeitava a orientação sexual da irmã. Mas Raquel tinha consciência do tamanho da bunda e dos seios fartos que a cunhada carregava. Só tentava não olhar muito. Naquele sábado, Rodrigo queria ficar em casa. Tinha alugado um filme na locadora e depois pretendia levar a namorada para a cama e lá ficar a madrugada inteira. Mas Mariana, para o seu espanto, preferiu sair com as meninas para o Castelo das Pedras. Deixou a namorada ir. Não podia proibir. E assim foi durante três meses. Brigas, brigas e duas tentativas de término de namoro. Rodrigo engordou, perdeu cabelo e não tinha mais vontade de trabalhar. Mariana estava mudada. Uma noite, chegou bêbada na casa do namorado, junto com as primas e a irmã. Rodrigo não deixou que a namorada, fedida e suja, dormisse em sua cama. Ordenou que ela ficasse junto das amigas, na sala. E foi o que ela fez. De madrugada, Rodrigo escutou barulhos e gemidos na sala e foi até lá ver. Nem precisava, certo? Naquele dia, terminou com Mariana. Está fazendo dieta e usando boné. Às vezes, tem notícias da ex-namorada. A última vez que ouviu falar da Mariana ficou sabendo que ela dividia uma quitinete com três caras que ela conheceu na praia. Só dispunham de um único colchonete e faziam vaquinha para comprar cachaça para os fins de semana. Suzana pesava 120 quilos. Além disso, era branca, fanha e com muitas espinhas. Passava o dia todo na Internet, batendo papo no IRC. Com o nick de Morena Tentação, se descrevia como uma negra alta, magra e com curvas perfeitas. Mas esta, na verdade, era Dolores, sua empregada doméstica. Suzana mandava fotos da garota, quando os mais incrédulos exigiam. Algumas vezes, chegava a trocar telefones e obrigava a empregada a conversar enquanto se masturbava ouvindo a conversa na extensão.
Em um desses bate-papos conheceu Michael. O gringo tinha vindo dos Estados Unidos e já morava no Rio há três meses. Apaixonou-se perdidamente pela suposta beldade negra com quem havia conversado pela Internet. Queria conhecê-la de qualquer jeito. Suzana chegou a chorar naquela noite. Alguém tinha se apaixonado por ela. Fez planos mirabolantes e fantasiou toda a sua vida com o gringo loiro, alto, rico e sarado. Minutos depois, percebeu que não era ela quem ele queria. E sim a mulher que tinha inventado: - Dolores, você vai no meu lugar! - Tá louca? É ruim, hein! - Nem discute, garota. Senão eu corto o seu 13º. Como Dolores estava atolada em dívidas e não era muito esperta, topou. Michael a tinha convidado para um fim de semana em Angra dos Reis. Chegando no hotel, o gringo ficou no bar durante horas e levou Dolores, totalmente bêbado, para um lugar ermo. Então ele a estuprou e matou. Suzana ficou chocada quando a polícia contou a história e refletiu sobre os bons momentos que teve com a sua empregada, amiga e cúmplice. - Pensando bem, eu não tinha mesmo dinheiro pra pagar o 13º dela. Leslie era de São Paulo e adorava cariocas. Na sua lista de amigos do ICQ, havia vários. Um deles era especial. Seu nome era Ivan. Era dono de uma rede de churrascarias. Havia um tempo que eles se correspondiam. Tinha a convidado para conhecer o Rio. Ela foi sem pensar duas vezes. O cara levou a garota para um verdadeiro city tour. Bondinho de manhã, Cristo de tarde. Jantaram no melhor restaurante e terminaram a noite num motel em São Conrado com vista para o mar.
Na volta ela não tinha outro assunto. Tudo era Rio, Rio, Rio. - A paisagem é linda, a Lagoa, o Pão de Açúcar, o Cristo! Praia, montanhas! Não é este lixo poluído que é Sampa. As amigas ofendidas não falavam nada e Leslie prosseguia: - E o povo é outra coisa! Tudo malhado, bronzeado e descontraído. Ninguém usa cavanhaque. - Se você ama tanto o Rio, se muda pra lá. - Uma amiga perguntou quase perdendo a paciência. Foi o que Leslie fez. Casou-se com Ivan e se mudou para o Rio, largando o escritório de advocacia em que trabalhava, na Paulista. Passou a morar com o marido e a sogra, que usava cadeiras de roda, na Tijuca. Em dezembro, veio passar o Natal com a família. - Nossa como você está branca, Leslie! - Ah, tia. Eu trabalho o fim de semana todo na churrascaria do Ivan. Ele não confia em mais ninguém pra fechar o caixa. Durante a semana eu fico cuidando da mãe do Ivan. Menos na segunda, quando ela tem fisioterapia. - Daí você vai a praia? - Sim. Mas são só 50 minutinhos de ônibus. ... Anônimo era um mendigo que dormia nas ruas de Copacabana. Sua calçada preferida era a da Siqueira Campos. Especialmente em dia de feira. Quase nada conseguia acordar o vagabundo. Nem o burburinho do pessoal indo para a praia, nem o barulho do tráfego pesado do bairro. A única coisa que lhe tirava o sono era Camille, uma garota de seis anos que morava com a mãe separada em um prédio perto. Sábado e domingo quando não tinha aula, ela acordava as nove da manhã e saía gritando pela rua com o resto dos amigos. A voz da menina era um misto de sirene de ambulância e Elba Ramalho. Extremamente irritante. Todos os vizinhos tinham vontade de matar o estorvo desafinado. Num domingo de sol escaldante, o mendigo acordou com os berros. Pegou a menina pelos cabelos e a lançou do forte de Copacabana. Os vizinhos ficaram felizes e deram bastante cachaça e roupa velha para o vagabundo. A mãe chorou um pouco, mas logo se recompôs e comprou um cachorro. - Dá menos trabalho. ... Aírton era um cara sarado. Morava com a mãe em uma favela no alto da Santa Clara. Todo o dia de sol, descia a rua em direção ao mar de Copacabana. Antes parava em frente ao espelho e ajeitava o sungão, sua única indumentária, de um modo que o pau parecesse maior. Sua mãe, evangélica, ficava apavorada. - Que indecência é essa, menino? Pode tirar esse Bombril aí de dentro. Eu vou lavar a louça e os pratos ficam cheios de pentelho. Fabiana era gorda. Foi rejeitada pela maioria dos garotos no colégio. Para se vingar, espalhava que eles eram gays. No trabalho, tinha raiva das amigas que conseguiam os caras que ela tanto queria. Mas era inteligente. Via soluções para os problemas do trabalho de um jeito mais simples que as amigas. Era organizada, simpática e competente. Virou diretora do seu setor em pouco tempo e começou a ganhar o triplo. Demitiu todas as colegas gostosas. Desde então, só contratava meninas acima do peso.
Carola precisava ter ao seu redor pessoas que fossem piores que ela. De acordo com o seu próprio julgamento, lógico. Um namorado mais burro e mais pobre que ela, uma amiga prostituta, um amigo viado e uma piranha que dava pra todo mundo no colégio. Tentava controlar todo mundo a mão de ferro. Sem muito sucesso. O namorado virou chefe do tráfico da favela em que morava e trocou Carola por uma estrela ascendente do funk. A amiga prostituta foi para Portugal e quando voltou para o Brasil, comprou uma cobertura na Lagoa. A piranha se casou com um diretor da Globo e virou protagonista da última novela das sete. Carola perdeu o emprego. Acabou tendo que morar com o amigo viado, que chegava bêbado em casa e espancava a amiga sempre que ela esquecia de lavar e passar as roupas. Rita fumava maconha desde a puberdade. Libertava a sua mente para os trabalhos publicitários da faculdade. Fez vários amigos maconheiros. Um destes lhe arranjou um estágio numa agência carioca. A garota dizia abertamente a todos que fumava. No trabalho, fingia que era redatora, fazendo slogans clichês para produtos inexpressivos. Por um tempo, foi feliz. O tesão reprimido que sentia por mulheres veio à tona e não fez nada a respeito. A agência começou a perder clientes, demitiu o redator e a promoveu para seu lugar, mas mantendo o salário de estagiária. Com a ajuda de outro amigo, conseguiu uma entrevista em uma agência paulista. Era tudo que queria na vida. Durante a entrevista, ficou super à vontade. Ganhou a simpatia do diretor de criação, mas foi logo descartada quando disse que amava Bob Marley, Peter Tosh e queria morar na Jamaica. Carlos queria uma namorada melhor. A sua não tinha aquela bunda gostosa como a da namorada do Herculano. Quando saía com o amigo, este fazia questão de falar como comia a adolescente. Posições, gemidos, truques e as mordidas preferidas da Cíntia. Carlos já estava cansado de cinco anos de sofá aos domingos na casa da família da namorada. A menina tinha se acomodado. Já conhecia Carlos o suficiente para conseguir o que queria e gostava de fazer sempre a mesma coisa na cama. Aos sábados, iam ao baile funk do subúrbio. Da última vez, Herculano e Cíntia, foram juntos. A namorada de Carlos queria água, estava cansada e desidratada. Na fila do caixa, Cíntia puxa Carlos pela mão e o leva para o banheiro. Tranca a porta e desabotoa a calça. No domingo seguinte, Carlos nem se importou quando a namorada o pediu pela enésima vez que lambesse sua vagina. E daquela vez, nem ficou chateado com os pentelhos que ficavam presos em seus dentes. Felipe tinha problemas com a sua sexualidade. Não que ele fosse gay, mas curtia lances com outros caras, desde que estes fossem másculos. Bem, era isso que ele pensava. Todo mundo, menos ele, sabia que no fundo, era só mais uma bichinha. E que o CD da Shakira no carro, não era porque achava a cantora gostosa. Aliás, ele dizia que achava. Uivava sempre que via algum videoclipe da cantora:
- Gostosa! Para disfarçar, fazia coisas que considerava masculinas como beber, fumar, dizer palavrão e assistir luta livre no pay-per-view. Para ajudar na construção do tipo, tinha feito uma tribal nos braços e comprou um rotweiller. Todo fim de tarde, pegava Tyson - este era nome do cachorro - e dava voltas pelas ruas de Copacabana. E aproveitava para falar com a galera que tomava sucos esquisitos depois da academia. E foi numa destas voltas, que avistou Carlos, que passeava com um poodle. Felipe riu por dentro. - Ih, esse cara é boiola! Mas até que é gato. Vou dar uma idéia nele. Vai que eu pego? Abriu o papo falando sobre cachorros. Conversa vai, conversa vem e Felipe arrisca: - Me dá teu telefone, cara. Quem sabe a gente não troca uma idéia mais tarde lá em casa e tal... A resposta foi um murro no queixo que o jogou no chão. Sem entender onde tinha errado, o coitado perguntou: - Poxa, mas você passeia com um poodle branquinho! Qualé a tua? - É da minha mãe, ô viado! Dona Consuelo já estava sem tevê a cabo a mais de 24 horas. A solidão, normalmente apaziguada pelos canais de filmes de ação dublados, havia voltado.
- Puta que pariu. O que eu vou fazer agora? Eu não leio. A casa já tá limpa. Tô fudida, caralho! Dona Consuelo era uma virgem quarentona e falava muitos palavrões. - Vou ter que ligar pra porra da NET de novo - rosnava para si mesmo enquanto discava. - Atendimento NET, Alice, boa noite. - Boa noite o caralho! Quando é que essa merda dessa televisão vai voltar a funcionar? - Com quem falo? - Com quem fala? Quer saber meu nome? Pois não, é Consuelo Pereira de Souza Costa, que-ri-da. - Senhora Consuelo, o problema é com a televisão ou com a NET? - Minha filha, enfie a sua ironia de quinta no rabo. Eu só quero que as porras dos canais dessa merda voltem a funcionar. - Aguarde um momento. Estou checando no sistema. E me parece que seu bairro está sem sinal. Contamos com uma equipe da NET no local trabalhando para resolver o problema. - Então me coloca num bairro onde eu tenha minha televisão de volta. Dá um jeito! Eu pago essa merda, sua filha da puta. E pago caro, porra! - Dona Consuelo, se a senhora continuar usando este palavreado eu não mais atenderei à senhora. - Ah é? E daí eu vou ser atendida por alguém que vai resolver o meu problema? Então escuta aqui. Preste bastante atenção nestas palavras: EU ESTOU SEM A NET HÁ HORAS E QUERO ESSA MERDA FUNCIONANDO AGORA! Eu disse AGORA, sua piranha burra! - O funcionamento estará regularizado em instantes. - Instantes... (Consuelo fica meio minuto sem dizer nada) - Senhora Consuelo? - Escuta aqui, Alice, você tem mãe? - Como, senhora? - Você tem mãe? É uma pergunta simples. - Acho que isso não vem ao caso. Posso ajudar em mais alguma coisa, senhora? - Ah, você quer desligar, vagabunda? Vai desligar na minha cara, sua filha da puta? Experimenta! - A NET agradece sua ligação, senhora Consuelo. Dentro de alguns instantes... - Você vai dar essa sua boceta pro seu chefe. E aí quando acabar, volta pra atender mais ligações de nós idiotas sem televisão, né? É assim que vocês trabalham, né? Suas piranhas incompetentes! Bando de vadias... -... (o telefone é batido na cara de Dona Consuelo, que sai descontrolada pela casa quebrando controle remoto, atirando quadros e derrubando abajures) Só consegue dormir à noite sob efeito de Lexotan. Acorda com a campainha tocando sem parar: - É o pessoal da NET! Na manhã seguinte, o porteiro, que sempre buscava o jornal para Consuelo, teve que arrombar a porta. Desmaiou após ver e a cabeça da solteirona em cima da televisão e pichações do Comando Vermelho pela parede. Alice, atendente de telemarketing da NET, morava no morro e fez amizades muito fortes por lá. A televisão voltou a funcionar, mas só com os canais Shoptime e Futura. A polícia desconfia de suicídio. Carla tinha um sério problema: vaginite Tinha começado a namorar e o cara já queria levá-la pra cama. A jornalista de 26 anos, que ficou solteira recentemente, conheceu Gustavo no trabalho. Troca de olhares durante um café na cozinha, gentilezas no elevador, mensagens por icq, cinema, jantar e...cama:
-Não Gustavo, hoje não. -Como assim hoje não? -Não estou preparada. Não queria que as coisas fossem tão rápidas assim -Tudo bem... Gustavo era estagiário. Tinha 20 anos e era cheio de vontade. Era tudo que Carla queria depois de um casamento conturbado com um advogado de 40 anos. Queria aproveitar a vida. Tinha se aplicado desde cedo nos estudos, sempre foi muito correta em suas idéias; não fumava, não bebia e só tinha transado com o seu marido até hoje. A vaginite foi o que impediu que as carícias no sofá de sua casa tivessem um fim mais satisfatório. Gustavo estava inconformado, mas escondia isso bem. Aceitou a coca-cola oferecida pela namorada e ficaram vendo Zorra Total. Depois de um silêncio constrangedor, onde só se ouvia as risadas gravadas do programa da TV Globo, Gustavo resolve conversar: -Carla, você é feliz? -Nossa Gustavo...Por que essa pergunta agora? -Sei lá... Às vezes eu sinto que o mundo fica todo em meus ombros. Tenho responsabilidades que eu não consigo cumprir. Tenho anseios que não me deixam dormir. Vejo você toda decidida, cheirosa e bonita e isso meio que me faz sentir um homem melhor. Você é a mãe que eu não tenho. A mulher que eu quero para mim. Eu não fico um dia sem pensar em você. -Nossa, Gustavo... -Espera, tem mais...Eu não sei o que vai pensar de mim, mas eu acho que me apaixonei. Seu toque é lindo. Suas mãos me atraem. Eu quero você pra sempre. Sabe rosas vermelhas? Sempre que eu olho para elas, eu me lembro de você. -Nossa Gustavo. Você é uó! Segunda-feira no trabalho, Carla termina com Gustavo. E até hoje não marcou um ginecologista. Ricardo era esquisito. Cabeça enorme equilibrada sobre um corpo magro e barrigudo. Carregava as sacolas pelo corredor quando foi quase jogado no chão por um apressado:
- Porra, você é cego? - No momento, estou. Me desculpa. Ricardo ficou vermelho de vergonha. Quis consertar o fora dizendo que foi uma força de expressão e completou com uma frase de efeito totalmente sem nexo. - Carioca só quer saber de corpo. Alma, caráter, essas coisas não valem. Luís continuou parado ouvindo. Quem diria que um simples esbarrão minutos atrás daria num encontro? Luís era de Minas, estava no Rio há pouco tempo. Um acidente envolvendo uma tentativa de churrasco com uma garrafa de álcool tinha deixado o mineiro com dois tampões nos olhos. Luís, depois de ouvir horas de lamúrias de Ricardo, resolve falar: - Você tem uma voz muito sexy. Ricardo tremeu. Um elogio. Era tudo o que ele precisava. Estava cansado de levar foras de caras no bate-papo do UOL. Se sentiu leve. Se sentiu querido. Luís era especial. Ele sentiu isso. Luís continua: - Quer ir comigo até o meu médico? Preciso tirar esses curativos. Sim. Sim. sim. Ricardo responderia sim para qualquer coisa que Luís pedisse. Ficou aguardando na sala de espera. Foi coisa rápida. Nem havia terminado de ler a Chiques e Famosos quando Luis apareceu sem curativos. - E então, Lu? Como está? Luis olhou o garoto de cima abaixo. - A gente se vê por aí. Valeu! Eliane estava triste Naquela noite tinha deixado tudo o que mais amava para trás. Tinha terminado com o namorado. Não sabia o que ela sentiria no futuro. Gustavo foi seu primeiro namorado e tinha sofrido muito com ele. Encheu o peito de ar e terminou com o garoto, que era 2 anos mais novo do que ela. Chorou muito. Pensava em solidão e aquilo assustava. Tinha aprendido a andar junto com o namorado. Que dava pra ela segurança, confiança e carinho. Coisa que não tinha muito dos pais separados. Não dormiu de noite. Acendeu o abajur e ficou olhando para o teto fixamente. Pensou como que sua vida seria adiante. E chorou mais.
Tinha 20 anos e morava com a mãe, que naquela noite, não iria dormir em casa. Pensou em telefonar para os amigos, mas não queria acordar ninguém. Andava pela casa escura. Gustavo tinha ficado com uma amiga dela. Eliane já sabia disso dois meses atrás e vinha tomando coragem para terminar com o namorado. Só conseguiu dormir quando amanheceu. Acordou 4 da tarde, foi ao banheiro e ficou parada em frente ao espelho durante uns 5 minutos. Tomou banho. Pegou o carro e saiu. Foi pra casa de Antônio, um amigo de infância: - Oi Antônio, você poderia me devolver o CD dos Travessos que eu te emprestei? - Claro! Colocou o CD no som do carro e voltou pra casa cantando. Alegria, alegria, Syang também é uma inter:urbana. O site da Playboy traz um conto incompleto da roqueira (sic) e convida os leitores a escreverem um final para a obra. Em negrito, o nosso desfecho enviado para a Playboy.
Latejo A qualquer momento, com a inspiração, tudo é propício. Domingo de sol, meu Mustang 68, sol a pino, cabelos ao vento, pouca roupa. Vou despindo peça a peça, o som do carro é hipnótico, é... tudo pode rolar. Naquela estrada deserta, divago em cada parte de teu corpo. Posso sentir cada gota do teu suor, tua saliva doce, tua língua macia e te imagino ali, dentro de mim. Escrever ou enlouquecer, preciso liberar meus anseios... Paro a nave em um lugar verde com um lago cristalino, muita sombra. Eu, nua em pêlo, só de botas, pego no banco traseiro uma manta, estico sobre a relva quente, caneta e muito tesão, derramo letras e desejos no papel. Palavras que me intumesciam o sexo, a boca, a carne. Quando me pego a acariciar meu corpo, sinto-me possuída e triste, porque não posso tê-lo agora me segurando por trás e me fazendo suar por completo. Não quero acabar com esse estado de prazer: fecho meus olhos e me amo ali. Latejo, te quero No cio eu vivo Respiro paixão Sou puro tesão Só penso em sexo Sou toda vagina Te quero inteiro Dentro de mim... Absorta em meus pensamentos uterinos, não percebo os pivetes no meio do mato a me espionar. Eles atraem minha atenção atirando bolinhas de mamona em meus cabelos loiros. Emputecida, eu me levanto e grito: "qual é, seus filhos da puta"? - Duvida que eu tire fininho daquele guarda?
- Tu é louca, Adriana? Tu tá com o baseado na mão! Adriana e Ana Paula caíam na gargalhada. Elas adoravam andar de roller pelo asfalto da Avenida Atlântica aos fins de semana. Iam juntas com Igor, o namorado de Ana Paula. Ele atrás, a pé: - Roller é coisa de veado. - Cala a boca, Igor. Tu não sabe de nada! Igor não sabia de nada mesmo. Nem desconfiava que a namorada o traía com a amiga toda vez que ele ia treinar jiu-jitsu. Ana Paula só transava com o namorado quando estava bêbada ou precisando de dinheiro. - Vai, Adriana! Ana Paula estimulava todas as loucuras da amiga. Fazia isso porque não tinha coragem de fazer por si só. Tivera uma educação muito rígida na Escola Britânica. Não adiantou nada. Nunca concluiu o segundo grau. Trabalhava de vendedora numa Boticário em Copacabana. Adriana foi. Pegou impulso. Passou a mão na bunda de uma turista americana no meio do caminho e se projetou em direção ao cabo Afonso. Esse já tinha sentido o cheiro de maconha de longe, mas como sempre, olhou para direção oposta. Ela teria se dado bem em sua peripécia senão fosse a boa mira da americana. Injuriada com o abuso, pegou o coco que estava tomando e acertou a cabeça da garota, que caiu no colo do cabo Afonso. - Aí gostosa, tu é chegada numa erva. To te sacando faz horas. Me paga um boquete que eu livro tua cara. - Nem morta, negão. Foi a última vez que a viram. Uma semana depois, acharam um corpo boiando no mangue do Fundão. Estava irreconhecível. O legista tentou ajudar: - A gente pode fazer um exame de arcada dentária. - Não dá, Adriana nunca foi num dentista.- responde Ana Paula. - Pô, ela tinha um bafo do caralho - completa Igor. - Cala a boca, Igor. Tu não sabe de nada! Bete vendia doces - Olá gente, dá licença. Alguém vai querer doce hoje?
- Não, Bete, muito obrigado. - De nada, meus amores Sobe mais um andar: - Alô crianças, alguém vai querer um docinho em compota, hoje? - Ai minina, lá vem você me tentar. Tem aquele de doce de leite com coco? - Esse eu vou ficar te devendo. - Ah, então deixa... Oitavo andar: - Olá. Alguém quer doce hoje? - Não. - Hoje tem de doce de leite, de ameixa, de pêssego, de açaí... - Não. Nono andar: - Carlinha meu amor, vai querer um doce hoje? - Só se for preu explodir de gorda. Olha o tamanho da minha barriga. (levanta a blusa) - É verdade. Você engordou bastante. Vou embora pra te ajudar! Décimo: - Oi Antônio, vai querer doce? - Só se for esse que está no meio das suas pernas. - Menino, não fala isso. Hoje eu andei pra caramba. Ela deve estar bem salgadinha. Se você não se importar... - Ah não...eu queria doce mesmo. Valeu! - Ok! Sobe mais um: - Oi. Doce? - Tem de ameixa? - Tem. - Me vê 20. - Eu só tenho dois potes deste. - Então deixa... Era segunda-feira. Bete não vendia nenhum doce neste dia da semana. Tinha contas para pagar. Perdeu o emprego meses atrás. Tinha duas tranças loiras, vestia uma calça jeans apertada e às vezes, dava para alguns gerentes de escritórios, porque estes compravam muitos potes com ela. Mas naquele dia, não tinha vendido nenhum. E estava pra ficar menstruada. No vigésimo andar, subiu no corrimão de mármore das escadas, junto com o carrinho. Olhou para aquele vão que ia até o primeiro andar e se jogou. Caiu no térreo com os potinhos de doce que quebraram em cima de seu corpo. As pessoas tomaram um susto imenso. Os faxineiros correram e começaram a lamber os doces da perna de Bete. Nem se importaram com o sangue. E os potes que foram amortecidos pela bunda da vendedora, foram roubados por pessoas que esperavam o elevador. Cascadura via Dinamarca Alfredo dançava muito bem. Era o melhor do bairro. Todo mundo o conhecia como Jack, do Tornado Dance Funk Club (TDFC), que era um grupo de street dance que fazia sucesso em Cascadura. Alfredo tinha um penteado poderoso. Da última vez que cortou o cabelo, deixou só um topete, que era todo o dia besuntado de gel e penteado de uma forma bem funky. Michele era apaixonada por ele. Na última festa do bairro, nas férias de julho, beijou o garoto na boca uns 4 dias seguidos até sangrar os lábios. Ela era um vulcão reprimido pelo pai militar. Michele chamava muita atenção. Era alta, loira, olhos verdes. Tinha um beiço do tamanho de Cascadura. Todos os garotos do bairro babavam nela. Mas ela ficava só com o Alfredo: "Ele é lindo, gente. Olha que gracinha."
Claudinho e a maioria do bairro não deixavam o menino em paz. Era chamado de boiola, veadinho e esquisito o tempo inteiro. Alfredo foi criado pela avó desde pequeno. Os pais morreram num acidente de carro. A dança, foi a sua salvação: "A dança me liberta. Me faz sentir livre. Acho meu lugar no mundo. Sou feliz quando danço." Ele dizia mais ou menos isso quando os jornais da região o entrevistavam após uma apresentação. Michele se apaixona. Alfredo, assustado com a menina, diz que o que eles sentem um pelo outro é uma grande amizade; que a respeita muito e um namoro seria algo muito responsável para o momento. E ele não estaria pronto pra isso. Ele sabia usar as palavras muito bem. Lia desde pequeno. Michele chorava e chorava. As amigas não sabiam mais o que fazer. Diziam que ele não a merecia. Os meninos deram porrada nele. Dispensar a gostosa da Michele era algo incompreensível. Em setembro, um ônibus da Dinamarca chegou com um grupo de dançarinos de rua para a competição que a cada dia ficava mais famosa no Rio de Janeiro. Os dinamarqueses do Dance Street Power for the Lovers of Funk ( DSPFTLOF) eram tratados como príncipes. A Dona Clotilde, vó de Alfredo, perguntava para um dos meninos se ele já tinha lido na Hamlet, na escola. Segundo ela, ele era um herói. Disse que o grupo de dança dos meninos era o reino desse príncipe. Os garotos não entendiam o inglês dela. Mas sabiam balançar a cabeça. A vinda deste ônibus não deixou Alfredo dormir. Era a grande chance dele se destacar e quem sabe receber um convite para dançar na Dinamarca. Michele rezou para que tudo corresse bem. Dona Clotilde nem dormiu na véspera da competição. Alfredo cagou a noite inteira: "Mas tá tudo ótimo. Tudo dependerá da concentração e do ritmo do grupo. Com certeza faremos de novo um ótimo trabalho", dizia ele para os amigos. Eles saíam rindo e perguntando se onde o Alfredo comprou aquela calça, tinha uma para homem. Sábado de noite era A NOITE. Festa do Vinho e da Competição de Dança de Rua. Cascadura parou. A banda de Cíntia Mara, uma banda punk-rock com garotas gordas cheias de piercing e vestidas como criança, abriu a festa. Alfredo ficava no seu quarto enquanto o resto do grupo se divertia comendo churros e meninas. Ele não gostava de agitação antes de entrar no palco. Minutos antes da apresentação de seu grupo, o primeiro da noite, Dona Clotilde vai chamar Alfredo. Que não estava lá: "Cadê o Alfredinho, gente? Já procurei por todos os lugares". As vizinhas abanavam Clotilde que tremia mais que a coreografia do grupo. Alfredo tinha ido, a convite de Ralph, para a Dinamarca. Tinha se apaixonado pelo menino logo quando chegou no Brasil. Alfredo deixou um bilhete que sua vó só foi descobrir depois de semanas. Dizia mais ou menos assim: Fui! Filha de cor Adriana sempre quis ser uma menina de cor. Era ela que falava assim. A menina era loira. Mas tinha fascinação por cabelos crespos, dreads, pele negra e dentes brancos. Desde pequena ouvia Sandra Sá, Jorge Ben... (fala os nomes assim até hoje).
A moça tem 23 anos. O pai dela desistiu de apresentar o vizinho loiro, os cd's do Kenny G e do Richard Clayderman. A menina tinha raízes negras muito fortes. A vizinha, às vezes, visitava a família e ficava assustada vendo Adriana usando gírias... - Menina, como você tá mudada. Que unhas são essas? - Yo, tia. Yo! - Como? - Qualé mano, se liga. (olha para os pais e completa) A tia aqui tá muito doida, saca? O pai olhava para a vizinha e sorria sem graça. A mãe, normalmente se recolhia para o quarto e começava a chorar. Eles eram ricões do Morumbi: - Adriana desde pequena teve acesso aos discos da empregada, Alberto. Como você deixou isso acontecer? - Não ponha a culpa em mim, Albertina. Você adorava o Tim Maia. - Tim Maia nem preto é. - Não fala besteira mulher. Tim Maia é tão preto quanto o Ronaldinho. Os pais se culpavam. Não entendiam a paixão da filha pela cultura negra. Os 3 namorados de Adriana foram negros. Hoje estava sozinha. Estava curtindo uma solidão. Assim ela dizia. E se trancava no quarto pra ouvir a Nina Simone. Eu já disse que Adriana tem olhos verdes, 1,76 de altura, boca carnuda, cabelos longos e loiros? Tinha. O Marquinho era da sala dela na faculdade. Era um negão muito feio. Preciso dizer que ele a namorou durante 2 anos? Os amigos da faculdade cochichavam e debochavam. Albertina, mãe de Adriana e sósia de Marta Suplicy obrigou a filha a procurar uma psicóloga: - Tudo bem, mãe. Mas quero uma de cor. - Nada disso. Vai ser branca. A briga era feia. Só terminou quando a Dr. Regina, que era albina, atendeu a menina no consultório. Elas se davam muito bem. Adriana ia sempre. Só se consultava ouvindo Billie Holiday. Dois anos de terapia se passam. No seu aniversário, a menina pede pra mãe, um cd do David Bowie. A mãe chora de emoção e grita:"obrigada, Jesus!". Depois de tanto insistir, Adriana ganha também uma passagem para Londres. "Alberto, ela desistiu de ir pro Harlem"! Adriana já estava no exterior há dois anos. Quando perguntam para a mãe o paradeiro da filha, ela enche o peito de orgulho e diz : "Adriana amadureceu. Tá em Londres trabalhando. Tá namorando uma inglesa que toca na banda da PJ Harvey." "Someone please, call 911!!", grita a piranha loira de nome Cindy Newman no Telecine. Enquanto isso na cozinha, a Creuza cozinha seu brócolis com torresmo pra alimentar o Bruno e o Maikol. "Depois eu vou tomar banho, passar meu perfume e descer pro baile".
Osmar tinha a convidado pra sair nesta sexta e ela como tava querendo um grande amor, resolveu aceitar o convite. Osmar encontrou Creuza no pé do morro...depois eles iriam andando pro baile funk que aconteceria ali perto. A garota tinha 19 anos, era prostituta e trabalhava muito. Era uma negona maravilhosa e sustentava os filhos sozinha. Aí você reclama: Pô, mas prostituta linda ganha bem e acaba saindo do morro. Mas é que ela era feia mesmo...quem falou aquilo de negona linda foi o Osmar enquanto olhava pra bunda de Creuza, que rebolava atravessando a rua. Chegando lá, dançaram até cansar. Tomaram o guaraná da Furacão, tiraram a camisa...Creuza subiu e desceu nas coxas do Osmar com o dedinho na boca infinitas vezes. Quando estavam saindo do baile, aquilo que ela mais temia, acontece. Durval encontra Creuza: - Por que a senhora não foi trabalhar hoje? - Pelo mesmo motivo que você não emagrece! A negona era inteligentíssima. Pra evitar confusões maiores, ela respondia qualquer coisa que não fazia sentido algum. E numa altura maior com a qual lhe foi perguntada. Como Durval não pensava direito e tinha um complexo enorme por ser gordo, engolia o sapo na maioria das vezes. Mas naquele dia, a mãe dele tinha morrido. Creuza continua e grita: "Ouviu bem, seu gordo filho da puta?" Durval puxa a arma da cintura e atira na cabeça de Creuza, que cai com a sua calça da gang em cima de Osmar. "Someone please call 911?" Que nada, a gente tá na Rocinha. Cobre a vagabunda com um plástico preto que amanhã eles recolhem. Sirléia estava desempregada. Isso já estava desesperador. Com três filhos pequenos e a mãe doente em casa, ela tinha que dar um jeito. Foi ver uma vaga de recepcionista no centro da cidade. No ônibus foi rezando.
- Senhor Jesus, derramai sua graça sobre essa serva e fazei com que o emprego seja meu. O lugar era um casarão antigo. Sirléia estranhou a fila curta de moças. Ela estava acostumada a filas de pelo menos meio quarteirão. Ela entrou no lugar e se deparou com um monte de mulheres somente de calcinha e salto alto. - Ai meu Jesus! - Veio pro cargo de recepcionista? - É... O pessoal gostou de Sirléia. O emprego era dela. O tempo passou e Sirléia comprou um carrinho, que ela tanto queria. Dinheiro já não era problema. Ela contou em casa que havia recebido uma promoção. A mãe dela acreditou. Laura amava Anselmo mais do que tudo na vida. Ele era tudo o que ela queria na vida: gostoso, trabalhador e muito carinhoso. Estavam no primeiro ano de casamento. A vida era difícil, mas eles podiam se dizer felizes. Laura era professora primária de uma escola em Quintino e o marido, inspetor de polícia que acabara de ser transferido para uma delegacia em Copacabana. Laura não gostou muito da idéia. “Você só vai ficar atendendo aquelas putas”. Anselmo dizia que ela precisava de umas férias. E foi isso que Laura fez. Chamou a amiga para conhecer Petrópolis, andar de pedalinho e visitar o Museu Imperial. Dois dias de férias foram o suficiente para sentir falta do marido:
- Imagina o Anselmo neste museu com obras tão lindas... - Nossa, mas você pensa nele o tempo todo! - Eu amo ele, Carminha...amo! Laura não agüentou. Naquela tarde mesmo pegou um ônibus de volta para o Rio. Passou no Sendas e comprou tudo o que o maridão gostava. Seria uma senhora surpresa. Chegou em casa, abriu a porta de mansinho e entrou pisando de leve. Roberto Carlos cantava no rádio. Ah, como os dois adoravam Roberto Carlos. Pé ante pé ao som da música, ela foi indo em direção do quarto. A farda espalhada pelo chão da casa toda indicava o caminho. A mulher abriu a porta e encontrou o marido na cama, de bruços, um homem em cima dele e uma mulher ao lado rindo. - Anselmo! - Oi, já chegou? - O que é isso em cima da minha cama? - É o pessoal da delegacia. Ela saiu do quarto e foi até a cozinha. Eles foram atrás, com medo. Laura estava apoiada no fogão, pensativa. - Laura, você está bem? - Vocês tinham que ir a Petrópolis. Aquele pedalinho é fantástico! Clara era gorda, fútil e egoísta. E tinha consciência disso. No reveillon passado prometera a si mesma que pensaria mais nos outros e menos nela. Culpava seu egocentrismo (e a gordura) pela solidão que a assolava.
- Vou ajudar gente carente, sei lá. Ensinar alguma coisa para crianças pobres. Clara se inscreveu no programa Amigos da Escola e conseguiu ser designada para dar aulas de inglês em uma escola em Marechal Hermes. Ontem ela resolveu promover uma festa de Halloween. - Seguinte, galera. Menina traz comida, menino traz bebida. Quem trouxer ganha um ponto. Mas não traz tubaína, valeu? Eu só bebo Coca Light. Kátia era mineira. Dona Iolanda, sua mãe era carioca. Quando Kátia fez 15 anos pediu à mãe para morar com a avó no Rio de Janeiro. Kátia queria ser bailarina do municipal. A mãe aceitou e a menina foi morar em Copacabana na cobertura de dona Violeta. No princípio tudo correu tranqüilo, mas logo o caldo engrossou. Kátia tinha um temperamento difícil e uns hábitos que dona Violeta não gostava. A garota fumava, chegava tarde em casa e trazia uns amigos muito estranhos. As duas viviam discutindo. Principalmente depois que Kátia chamou Dona Zelma de crioula safada e esta pediu as contas e foi embora.
- Desculpa, Dona Violeta, mas eu não fico mais nem um minuto debaixo do mesmo teto que essa diaba. Logo Dona Zelma que trabalhava na casa há mais de 40 anos. Essa foi a gota d’água. A avó estava disposta a mandar o estorvo de volta pra Minas. Kátia não gostou nada da idéia. Trancou a avó no quarto e aos gritos dizia que quem mandava naquela casa agora era ela. A idéia era matar a velha de fome. O quarto nunca foi aberto durante três anos. Enquanto isso a menina passou a vender tudo que havia na casa pra comprar drogas. Quando só havia sobrado quase nada, Kátia exagerou na mistura de cocaína e álcool e morreu. Os vizinhos sentiram o cheiro de podre uma semana depois e chamaram a polícia. Encontraram o corpo da garota no imóvel vazio. Resolveram checar o quarto da velha. Dona Violeta estava lá. Viva. Nesses anos todos, ela vinha se alimentando dos pombos que faziam ninho no ar-condicionado. Quando viu a neta morta e o patrimônio todo dilapidado, não se conteve. - Filha duma puta, o que ela fez com o meu jogo de porcelana chinesa? Regina amava os seus gatos. Quatro deles morreram de prisão de ventre. Regina os entupia de comida, com medo dos bichanos morrerem de fome. E de vez em quando, eles amanheciam mortos. Ela chorava e se entupia de comida para se sentir mais feliz. Alberto, seu colega de quarto, não entendia como ela podia ser tão burra e tão carente. Moravam juntos há dois anos. Ambos traziam homens pra casa. A única regra era não ser muito tarde e somente aos sábados. Os gatos de Regina subiam na cama na hora do sexo. Os caras se espantavam. Paravam e ficavam sem graça. Regina caía na risada e gritava: Deixa... continua... O último gato que pulou em cima da cama, assustou o cara e levou um tapão que o fez voar longe. Regina parou tudo na hora e falou: Me respeita, cara. Você nunca mais faça isso comigo.
Alberto tinha que segurar altas crises de choro da amiga, que não parava com ninguém. Era um homem atrás do outro. Já tinha engordado 10 quilos desde que tinha ido morar com ela e não agüentava mais dar conselhos para um ouvido que não escutava. Quando o sermão acabava, ela dizia: "tá, agora vamos comer". A vida dela se tornou um pesadelo. Angela Rorô se parece com ela. Só que a cantora com certeza é mais esperta. Dois anos se passaram, 20 quilos a mais vieram e durante todo este tempo, nada de sexo. Regina se formou em educação física. Nunca mais teve nenhum gato. Seguiu o conselho do Alberto e tiveram muitos passarinhos. Estava mais feliz, namorou um cara do segundo andar por duas semanas e sempre que se sentia muito sozinha, ligava para o disk-sexo: - Queria falar com um homem bem gostoso! - Tá falando com ele, gatinha suada. - Eu tô no ar condicionado! Nem um pingo de suor aqui, garoto! - Hmmm, que ótimo... então tá quentinha debaixo da coberta e acabou ficando molhadinha, né? - Eu já disse que não tô molhada, que mania de vocês... - Então eu posso te beijar no pescoço e te lamber todinha? (a voz é rouca e arrastada) - Pode sim! - Hmmm, que cheiro..., que gostosura de mulher. Que gatinha... aposto que come Whyskas. Regina bate o telefone na cara dele, toca uma siririca e vai dormir. Doralice era uma menina muito linda. Não havia quem não se encantasse com seu sorriso angelical. Somado a isso ela tinha um corpo alto e magro, uma elegância natural que transformava instantaneamente em passarela qualquer lugar por onde passasse. Era uma supermodel nata. Ou pelo menos todo mundo dizia isso.
- Será que sou mesmo? Era sim. De tanto insistirem no assunto, Doralice resolveu procurar um agente. Foi assim que ela encontrou Rômulo. De cara, ele se encantou com a beleza da garota. Gisele Bundchen já era – ele dizia – você tem tudo para dominar o mundo! Ele convidou Doralice para um jantar. A caminho do restaurante, ele parou o carro num lugar ermo, tirou a piroca pra fora e estuprou a garota. Doralice desistiu da carreira de modelo. Hoje em dia passa o tempo todo em casa. Vendo tevê, comendo Ruffles e tomando refrigerante. Dizem que ela comprou um revólver. Melissa sempre quis conhecer a Europa, mas nunca tivera oportunidade. Até que um dia ela conheceu Fabian em uma sala de bate-papo na Internet. O cara morava em Madrid! Eles trocaram e-mail, ICQ, telefone e logo ficaram super amigos. Fabian perguntou se Melissa não gostaria de trabalhar com ele. Ela disse que sim, lógico. Trancou a faculdade de Nutrição, vendeu o Chevette que o pai tinha dado de aniversário e se mandou para a Espanha. Chegando lá, Fabian confiscou o passaporte e todo o dinheiro da menina e a obrigou a se prostituir num bordel na periferia de Madrid.
A comida é racionada, tem cliente que transa sem camisinha, Fabian volta e meia enche a cara e cobre Melissa de porrada. Às vezes isso a deixa meio deprimida. Quando isso acontece, ela tira o cabelo da testa e diz pra si mesmo: - Puxa! Eu sempre quis conhecer a Europa! Renata sempre se achou feia. Alta demais, corpulenta, abrutalhada. Passou a vida escolar toda carregando o apelido de João Grandão. Complexada com sua própria aparência, não saía, não namorava, era um caramujo em sua concha. Da casa para o trabalho, do trabalho para casa.
Sua rotina mudou quando conheceu Marquito, o novo gerente da loja em que ela era estoquista. Marquito era um doce, sempre a pondo para cima, elogiando seus pontos positivos, minimizando seus defeitos. - Não existe mulher feia, existe mulher mal produzida. Renata sorria satisfeita ao ouvir isso. Tanto Marquito falou que ela decidiu que não agüentava mais viver aquela rotina de prisioneira de si mesmo. Renata queria sair, paquerar, enfim, ser feliz. Pediu ajuda para seu estimado amigo e ele prontamente providenciou a ela um belo vestido de alcinha verde-limão, mousse para o cabelo e brilho labial. A então Cinderela usou toda a indumentária proporcionada por sua fada-madrinha e foi a luta. Foi para uma casa noturna, sozinha com a cara e a coragem. Desceu na rua para tomar um táxi. Um carro que passava parou. - E aí, boneca? Renata não acreditou em seus ouvidos. Estava sendo cantada! No que ela acreditou menos ainda foi quando quatro pitboys saíram do carro armados com bastões de beisebol e desceram a porrada nela aos gritos de "morre traveco fiadaputa". Renata foi parar no hospital coberta de hematomas. Sorte que Marquito apareceu logo com um corretivo cor de pele que fazia maravilhas com manchas roxas. Samsara era feia mesmo. Olhos esbugalhados, cabelos ralos e nenhum queixo. Aos 25 anos era virgem. A única cantada que recebeu na vida foi na faculdade e fazia parte de trotes contra os calouros.
Uma manhã, Samsara acordou e se sentiu diferente. Em vez de braços e pernas, ela agora tinha seis patas peludas. E um par de antenas na cabeça. Ela havia virado um inseto. Hoje, Samsara já passou em revista todas as baratas da favela. E tem uma descendência de milhares de baratinhas. Samsara nunca foi tão feliz. Chico já namorava Clô há um bom tempo. No começo, ele só queria comer a garota, mas ela fez jogo duro e o que era para ser só uma foda virou compromisso. E nada de sexo. Até porque eles só tinham quinze anos. O pai do cara não liberava o carro de jeito nenhum e a mesada não cobria o motel.
Na terça-feira, estavam os dois vendo tevê na casa do Chico, quando a mãe deste caiu da escada e torceu o braço. O pai dele a levou para o hospital, ficando o casalzinho a sós. - Rápido, Clô, vamos para o quarto dos meus pais. - Tem tevê a cabo lá? - Tem sim. Os dois se jogaram na cama, ensaiando as preliminares. - Ai, Chico, tá passando Smallville e eu queria ver... - Então fica de costas e a gente faz anal! - OK, só não geme muito alto! Alfredo, Carlos, Fábio e Bruno eram melhores amigos. E Valéria, apaixonada por todos. Eram todos do mesmo bairro e tinham crescido juntos. A puberdade os distanciou e hoje em dia, só se viam em festas e afins. Carlos, Fábio e Bruno já tinham comido Valéria. Menos Alfredo. Os meninos acabaram namorando Bianca, Denise e Flávia. "Elas são pra namorar, porra. Valéria é gorda, fuma e ouve punk rock em becos sujos", disse Carlos. Alfredo mesmo assim, não tirava a idéia de que Valéria era a pessoa ideal:
- Ela é inteligente, cara. Curte todas as bandas que eu curto. Já leu a maioria dos livros que eu li. Curte sair, fumar... - Porra, assim como todos os seus amigos. Escolhe algum e namora! Valéria toca a campainha. A mãe de Alfredo bate na porta do quarto do filho: - Aquela menina tá aí, meu filho. - Quem? - Aquela esquisita! - Ah, a Valéria. Manda ela entrar! Valéria entra no quarto e tira da bolsa um vibrador. A cara de espanto do Alfredo diverte a menina. Ela continua. Vai puxando algemas, correntes, cremes, lingeries, chicotes e jogando tudo na cama do garoto. Pede pra que ele tire a roupa. Alfredo obedece. Estava com medo. Valéria dava gritos e risadas altas. Alfredo tinha que tampar a boca da tarada para que a mãe não suspeitasse de nada. Tirou a roupa de Valéria rapidinho. A calça número 48 saiu em três segundos. Valéria ficou surpresa: "Nossa, eu demoro tanto tempo. Como você foi rápido...". Alfredo deu um tapa na cara dela: "Cala a boca! Fica de quatro!" Pegou as cordas e amarrou as pernas da menina. Pegou uma bola vermelha, que ele não sabia para que servia, e colocou na boca da menina. Vestiu-se e saiu do quarto. Voltou com os pais, que avistaram a menina de quatro e amarrada, com os seios e a barriga encostando no chão: "Acha que cabe no forno, mãe?" Gustavo nunca tinha ido ao Rio. Esta era a primeira vez dele na cidade. Hospedou-se em um hotel em Copacabana. A noite estava agradável e ele resolveu ver o show da Preta Gil na praia. O show não estava tão agradável assim. Quando ele estava voltando para o hotel, Jéssica parou do lado dele e perguntou:
- Oi, para onde você está indo? Gustavo olhou para ela de cima a baixo e percebeu que ela era feia demais até para uma puta de Copacabana. - Para o meu hotel, por quê? - Posso andar junto? Estou sozinha e com medo. Gustavo concordou e os dois andaram juntos conversando por duas quadras. Foi quando do escuro saltou um pivete armado. Jéssica deu um passo para o lado e ordenou: - Passa a grana, otário! Gustavo deu tudo que tinha e ficou rezando para que eles fossem embora rápido. Jéssica olhou o pivete e perguntou. - E aí, moleque? Tá a fim de violentar o cara? - Tá louca? Prefiro bater punheta! Gustavo ficou puto e deu uma porrada no pivete. Jéssica fugiu correndo e ainda conseguiu pegar o fim do show. Úrsula era um tanto burra. Não, ela era muito burra. Ela era tão burra que se caísse de quatro, uma carroça brotaria imediatamente em suas costas. Não tinha o menor tato com as pessoas, dizia as maiores barbaridades e no máximo que conseguia dizer era "ih, foi mal". Apesar disso tudo, o destino era generoso com ela. Tinha um emprego maneiro, um namorado bom de cama e amigos que não ligavam para suas indelicadezas e falta de gosto. Apesar de tudo, não era feliz. Tinha consciência de sua própria burrice e isso era um espinho atravessando sua alma.
Uma de suas raras amigas aconselhou: - Vai nessa mãe-de-santo que é tiro e queda. O Edu foi e deixou de ser veado. - Mas ele tem pavor de vagina. - Pois é... ele até tá me comendo. - Que nojo! - Úrsula! - Ih, foi mal! Úrsula foi à mãe-de-santo. Após beber sangue de pomba e largar 13 rosas nas águas da praia da Urca, miraculosamente seus neurônios começaram a fazer contato. Percebeu que o namorado era uma anta maior que ela e o dispensou. Largou o emprego. Ligou para cada amigo e pediu desculpas pelas grosserias. Agora que era inteligente, percebera que a vida era insuportável. Subiu no primeiro morro, entrou em um bar qualquer e disse que queria comprar um revólver: - São 200 reais, madame! - Que 200 reais, mané. Tá pensado que eu sou burra? O cara se irritou e deu um tiro nela. Antes de morrer, ela deu uma gargalhada e gritou: - Hah! Economizei 200 reais! Fernanda nunca foi igual às outras meninas. Enquanto as outras já traziam as glândulas mamárias visivelmente desenvolvidas, ela era acusada de campeã de natação pelos garotos.
- Campeã de natação? - Nada de peito, nada de costas! - Idiota! Os garotos caiam na risada e ela saia emburrada para fumar um cigarro. Sim, ela já fumava aos dez anos. Transgressão era seu hobby. Usava drogas, namorava meninas e votava no PT. 20 anos se passaram e Fernanda foi convidada para uma reunião de turma. Enquanto as meninas, agora trintonas, conversavam animadamente sobre creche, viroses e os lançamentos da Mattel, Fernanda bebia um uísque com os garotos. Amanda, que sempre foi a mais querida da turma, resolveu a chamar para a rodinha de mulheres. - Fernanda, vem falar com a gente. - Sobre o quê? Eu não sei nada sobre crianças. Fernanda meio que titubeou mas acabou se unindo a rodinha feminina. Quando o assunto se tornou o último brinde da revista Recreio, Fernanda se pôs a chorar. - Tá chorando por que, querida? - Eu queria tanto ter casado e ter tido filhos! - Por que não casou? Nós sempre pensamos que você quisesse ser alternativa. - Eu nunca achei um macho, porra! Sônia era safada. Tinha dois namorados fixos durante anos, mas não saía com nenhum dos dois. Ficava com eles de segunda a sexta. Nos finais de semana, tinha que ser de outros. Tinha amigos e amigas. As meninas adoravam a companhia de Sônia. Ela conhecia muitos homens. Ficava com eles e depois apresentava para as amigas, que se contentavam com os restos. Ela não tinha HIV, mas tinha uma boca cheia de herpes e feridas. Usava um batom vermelho forte para esconder.
Sábado era aniversário de Flávia. A noite prometia. Disse aos dois namorados que ficaria em casa para descansar. Pegou o carro e foi com as amigas para a casa da aniversariante. E logo de cara, encontrou os dois na cozinha: - Ué, o que vocês dois estão fazendo aqui? - Vocês dois porquê? - Eu que te pergunto. Você disse que ficaria em casa. - Disse isso pra mim também. Como você sabe disso? Quem é você? - Eu namoro vocês dois. Tem algum problema? Porque se tiver, me avisa logo porque a festa tá começando. - Faça o que quiser com sua vida, Sônia. Pra mim, chega. Tá tudo acabado! - Pra mim também. E eu quero os meus cds do Rappa de volta. - Ok....Ai que tudo!! Amo essa música. Vamos dançar, Rô! E assim Sônia vai para a sala. Joga a bolsa no sofá, sobe um pouco a saia e começa o show. Os caras adoram. Às vezes, dá pra ver a calcinha dela. Augusto, um dos amigos da faculdade, vai para perto das meninas quando a música da Kelly Key começa a tocar. Sônia joga os braços no ombro do garoto e começa a dançar roçando os seios no peito dele. O beijo é o início de uma baixaria explícita na sala de estar da Flávia. Rogério, amigo de Augusto, adorou a idéia. Foi até lá e pegou Sônia por trás. Fez a festa no pescoço com cheiro de perfume do Boticário da menina. Aquele sanduíche sexual, incentivado por doses de álcool e de Kelly Key foi a atração do aniversário. Formou-se uma roda em volta dos três. Tinha gente que trazia pipoca, cerveja, refrigerante, sentava no sofá e assistia à pegação gratuita. Antônio, um dos gays da faculdade, resolveu participar. Chegou por trás de Augusto e foi recebido com entusiasmo. Fernando e Carlos viam a cena de longe. Trocaram idéias e descobriram segredos sobre o namoro de dois anos que tiveram com Sônia. Estavam furiosos. Com o chifre e com a cena de filme de sacanagem nacional que assistiam. Ficaram amigos e combinaram de sair dali e ir para um pub que ficava em Ipanema. Queriam conhecer meninas decentes. Mas antes, jogaram gasolina no carro de Sônia e riscaram um fósforo em cima do capô. Sônia voltou bêbada, com a roupa cheirando a vômito, de ônibus, para o Grajaú. Marcelo tinha uns braços enormes. Meio natural, meio por força de anos de jiu-jitsu. Ana ficava louca quando via aqueles braços.
- Faz uma tatuagem, faz! - Por que? - Porque me dá tesão, porra! Tanto que ela insistiu que ele foi visitar um tatuador. Ana queria que ele desenhasse o rosto do filho deles. Ele concordou desde que fosse sozinho. Chegou em casa com o bíceps coberto de hipogloss. Ana não se conteve e atacou o marido, lambendo a pomada toda. - Ué, cadê a tatuagem? - Fiquei com medo! - Bicha! Conversas ao telefone: - Alô!
- Alô, quem fala? - Quem deve falar quem o nome é você. Foi você quem ligou. Você já sabe pra quem está ligando. Eu é que não sei quem está falando. - Nossa, acordamos mal-humorada hoje? - Acordamos não. Eu não dormi contigo, graças a Deus. E aqui quem fala é o Marcelo. - Ui, Marcelo. Que voz delicada que você tem. - Quem tá falando hein, caralho? - Ih, agora engrossou. Assim eu fico com medo... - Você ainda não viu o grosso. Se visse, se apaixonaria. - Ah é? Onde você mora? ......................... - Alô, eu queria pedir uma pizza. - Só um momento. Qual o número do telefone? - 222-334455 - Ok, senhor Rodrigo. Essa é sua décima pizza. Estamos com uma promoção e esta o senhor levará de graça. Só cobraremos o refrigerante. - Maravilha! Eu quero uma gigante de calabresa com uma coca de dois litros. - Ok, senhor. Dá 12 reais. Mando troco pra quanto? - 12 reais? Não ia ser de graça? - É o preço da nossa Coca-Cola, senhor. - Enfia no cu, então. ........................ - Alô, poderia falar com a Suzy? - Ela não está. Serve a Barbie? Hahahaha - Palhaça! ....................... - Alô? - Alô! - Pois não, senhor... - Como a senhora vai? - Vou bem. Deseja falar com quem? - Com o Henrique, da administração - Quem gostaria? - Não sei. Acho que ele gostaria de falar comigo. Já você, tô sentindo que não... - Ele não se encontra. Está ocupado. - Ele não está aí ou está ocupado? - Um momento senhor....(minutos passam) - AlôôôÔ, alôôôÔÔ !!! - Senhor, ele pediu pra que você deixasse nome e telefone. - Isso é você quem quer, sua safadinha... - Senhor, mais respeito. Eu sou apenas uma secretária loira, alta e de seios fartos... - Piranha! ...................... - Alô? Ana? Amiga..., quanto tempo a gente não se fala. Sabe com quem estive ontem? Com o Roberto. Ele disse que não consegue esquecer a noite que teve com você. E que só vai te devolver a calcinha se você for lá pegar. Pode? Você só arranja tarado, hein? - Aqui é a mãe dela. A Ana tem só 14 anos. Eu acho que vocês deviam ir com mais calma em relação ao sexo. Eu atendo ligações de mais de 3 meninos diferentes por dia. - Nossa, a Ana tá dando pacarai, né tia? - Escuta aqui, menina, eu não quero que você ligue mais pra cá. Você está levando a Ana para o mau caminho. Se sua mãe acha isso normal, eu não acho. - Que nada. Minha mãe também sente inveja igual a senhora. Ela até trairia meu pai, mas tá acabada demais. A barriga tá caindo em cima da buceta gorda dela. - Quem tá falando? Que abuso! Eu não sou gorda não, tá? - Ah que ótimo! O Fernando, da Lagoa, adora uma coroa conservada. - Me dá o número dele, amiga!! Daniele amava Rogério. Ele era bonito, sarado e tinha um emprego legal. Perfeito. Ou quase. Daniele achava o marido muito pouco romântico.
- Eu vou dar um jeito nisso, ela pensou. Dani pegou o namorado num sábado e o levou a uma locadora de vídeos. Escolheu O Piano para levar para a casa. Fita no videocassete, pipoca na mesinha, Daniele no Rogério. Uma hora e pouco depois, o filme acabou. A menina olha para o namorado com os olhos cheio de lágrimas e um sorriso no rosto. - Que tal? - Peraí que eu já volto. Rogério foi até a cozinha e trouxe um cutelo. Cortou a língua e os dedos de Daniele fora. Neste fim de semana eles resolveram assistir umas fitas do Van Damme. Camila era uma gata de 18 anos que morava com a mãe. Ambas viviam às turras. Qualquer coisa era motivo para briga. Camila se isolava desse problema, passando horas em um canal de bate-papo lésbico na Internet. Foi aí que conheceu Lulu, uma mulher mais velha, super compreensiva, que entendia exatamente o que a garota sentia. Elas tinham muita coisa em comum, ambas eram loucas pela Madonna, adoravam Powerpuff Girls e não dispensavam uma tequila. Foi rolando uma química, ou uma eletrônica no caso, muito especial entre as duas. Um dia resolveram se conhecer ao vivo. Marcaram num barzinho.
- Eu vou estar de jeans e uma camiseta com uma margarida amarela enorme no peito. Lulu riu. Ele tinha uma camiseta uma camiseta igualzinha. Combinaram de irem com a mesma camiseta. No dia do encontro, para desespero de Camila, a peça de roupa tinha sumido. A vaca da mãe deveria ter posto para lavar. Chegou a hora, e sem alternativa vestiu uma camiseta qualquer. Lulu haveria de entender. No bar, ela avistou uma mulher que batia com a descrição da pretendida. Aproximou-se devagar e de susto gritou: - Porra, mãe! Essa camiseta é minha! Adriano se acostumou com a trapaça desde criança. Não podia pensar em outro jeito de resolver um problema ou conseguir alguma coisa se não fosse trapaceando. Sua namorada atual, por exemplo, foi cedida por um amigo que costumava transar com ela. Em troca, o amigo de longa data ganhou um processador novo para o seu computador.
O garoto não tinha tempo para estudar. Nem inteligência para isso. Ficava em casa comendo pipoca. Sabia um pouco de cada coisa e pensava que com isso, sabia muito. Não tinha pra ninguém. Ninguém sabia mais do que ele. Durante qualquer conversa sobre qualquer assunto, Adriano subia a voz e explicava com barbaridades o que os outros discutiam. Os amigos fingiam engolir para depois poder rir pelos cantos. A ingenuidade de Adriano era alimentada pela sua falta de neurônio. Não tinha consciência de que era ridículo e que todo mundo ria de sua pretensão em saber de tudo. Sua namorada, Carla, era preguiçosa. Sabia que o namorado era uma anta e que merecia um melhor, mas gostava dos passeios de carro pelos restaurantes da cidade. Os pais do garoto eram vendedores de produtos para emagrecer e afins. Assim ele foi indo e acabou conseguindo um emprego (mentiu no currículo). Três, quatro, cinco anos no mesmo escritório. Era aquele chato que ninguém tinha paciência para conversar. E nem coragem para dizer que ele era um saco. Sua namorada já tinha terminado com ele. Ficou entediada com as conversas de pescador e do sexo papai-mamãe-agora vamos dormir. Para Adriano, estava tudo ótimo: "A vida continua". Não tinha preocupação nenhuma. Enquanto tivesse cerveja, futebol e uma boceta pra comer, beleza. Quando fez 40 anos, chorou durante uma missa com sua família. Percebeu que não tinha feito nada de importante. Nem pra ele e nem pra ninguém. Saiu da igreja cabisbaixo. Deixou os outros irem de carro. Disse que queria caminhar. Comprou uma pipoca doce e voltou andando para casa: "Que merda de pipoca, tem que ter mais leite condensado" Edílson teve um dia cheio. Por duas vezes o ônibus não parou em seu ponto. E o ônibus demorava cerca de 45 minutos para passar. Logo hoje que ele queria chegar cedo em casa. Discutiu com o chefe, ouviu boatos de que a firma faria demissão em massa, quase perdeu o dedo na prensa. Aquele não era seu dia de sorte. Quando finalmente o ônibus chegou, estava lotado. Edílson a muito custo conseguiu um lugar espremido entre uma senhora gorda e uma mulher com um bebê no colo. A criança estava com as fraldas cheias e o fedor de merda estava insuportável. Isso foi irritando o rapaz profundamente. Quando o bebê começou a chorar, Edílson não titubeou: arrancou o moleque dos braços da mãe e o atirou pela janela bem na hora em que o ônibus cruzava uma ponte.
Edílson até hoje não entende por que os outros presidiários não gostam dele - Eu tive um dia cheio, pô! Filhos de Copacabana Cleide era muito fã de Elymar Santos. Seus filhos foram batizados de Elimaria, Elimárcio, Elimarlene e Elimarino. Eles eram pobres. Jair tinha largado a mulher quando o ultimo filho nasceu. Tinha se irritado de tanto ouvir CDs do Elymar. Para ganhar a vida, Cleide e prole passaram a catar lata na entrada do Canecão.
Elimaria era a única que acompanhava a mãe. Os outros filhos ficavam na praia do Leme sobrevivendo de pequenos furtos. A mãe não sabia disso. Se soubesse, daria uma surra nos filhos. No último sábado, Elimaria achou 3 relógios na gaveta do irmão mais velho e quis saber de quem era. Elimárcio se desesperou e pediu para que não contasse nada para mamãe. - Eu vou contar sim, seu ladrãozinho escroto. - Se você ficar quieta, eu te dou 3 meses de creme para cabelos crespos. - Então tá! Elimárcio teve a barra aliviada com a barganha. Contudo, não gostava nada da situação. Queria se livrar de qualquer jeito das diversas chantagens e frios na barriga que sua irmã mais velha causava. Mas não sabia por onde começar porque era muito burro. Resolveu consultar Darlene Cascata de Luz, uma traveca de 60 anos que ainda fazia ponto na avenida Atlântica, perto do Meridien. Darlene Cascata da Luz era a segunda mãe do menino. Foi a primeira experiência amorosa de Pepeco. Assim ela o chamava. Enquanto andava pela rua, o garoto ia pensando em como iria explicar para ela que roubava relógios na praia. De longe, já conseguia avistar a prostituta. Ela se destacava por usar roupas chamativas e pelo seu 1.90 de altura. Explicou tudo com muita calma e Darlene só ouvia. Não dizia nada. O garoto ficou em silêncio esperando um conselho. Darlene foi curta e grossa: amanhã, leva a sua irmã lá em casa! O prédio para onde o irmão levou Elimaria ficava na Princesa Isabel. O corredor muito estreito fazia com que o ombro das pessoas saíssem tocando as campainhas dos apartamentos. Elimárcio chegou ao 1201 e bateu na porta. Uma voz de ganso gritou lá de dentro: Você tem a chave. Não faz a boba não! O menino olhou para a cara da irmã. Tirou a chave do bolso e abriu a porta. Elimaria estava muda. Entraram na quitinete cheia de cortinas de miçangas, ursos de pelúcias rosa e espelho em todas as paredes. Darlene Cascata da Luz estava no banho e dava as instruções lá de dentro: - Não mexa em nada. Explica pra sua irmã a minha condição, Pepeco. Como nós nos conhecemos e como foi bom pra você. - E caía na gargalhada. Elimaria ficou branca. O irmão não esperava que Darlene ia entregar isso tão de bandeja. A irmã fala "Eu vou embora, chega!" E Darlene grita: "Já deixei o porteiro avisado que nenhum de vocês dois saem a não ser comigo. A gente vai dar uma volta. Espera um momento que eu estou acabando de me raspar." Darlene saiu do banho com apenas um peignoir de plumas cobrindo o corpanzil. Olhou para Elimaria - Então, Pepeco, esta é a sacana da sua irmã? Elimaria protestou: - Em primeiro lugar, sacana é a senhora sua mãe! E o nome do meliante é Elimárcio e não Pepeco. - Elimárcio??? - Darlene ficou pálida - Então você é... - Elimaria! - Os olhos da menina ficaram vidrados nos de Darlene. Elimaria balbuciou: - Papai, é você? Elimárcio foi direto pro banheiro. Não agüentou o misto de surpresa e tensão. Vomitou tudo no vaso sanitário. Saiu do banheiro gritando pela sala: - Eu transei com você. E você é meu pai. E agora? O que você quer que eu faça? Que eu transe com minha irmã? Quer que eu pule daqui de cima? Como você espera que eu fique depois de ouvir isso tudo? Hein? Hein? – Darlene logo se prontifica e responde: - Você está sendo egoísta. E eu? Não sinto nada? – Antes de ouvir o que Darlene tinha pra dizer, Elimaria taca um tubo de creme de 1 litro na cabeça dela. O traveco-prostituto de 60 anos cai no chão. Elimárcio, fora de si, pega o sapato mais próximo e finca o salto alto no pescoço cheio de creme do seu pai. O sangue esguicha. Os dois saem correndo do prédio e o porteiro vai atrás na mesma velocidade. Vão em direção a praia feito loucos, quase sendo atropelados pelos carros da Avenida Atlântica. Gesticulam desesperados para que algum carro pare. O porteiro corre atrás com um pedaço de madeira. Elimaria se joga em cima de uma Pajero, que abre a porta: entre logo, meninos! Os dois nem acreditam. Estavam com o coração na boca. Sentados no carro, choram desesperados e só se acalmam quando vêem que o carinho que recebem na cabeça é de Elymar Santos. André já não agüentava mais morar com a mãe. Ela era muito autoritária. Hora pra isso, hora pra aquilo. Resolveu dar um basta nisso. Foi morar com o pai. Lá, encontrou o paraíso. O pai era mais que um pai. Era um amigão. Parecia que os dois tinham a mesma idade. Um dia, quando os dois estavam fumando um baseado, resolveram jogar o jogo da verdade. Cada um tinha que contar um segredo inconfessável. André foi o primeiro:
- Uma vez eu beijei um cara na boca. O pai começou a chorar e saiu da sala. André pensou que tinha feito merda e desconfiou que o pai fosse pensar que ele era gay. O pai demorou no quarto. Depois de meia hora, aparece na sala vestido de mulher: - Agora eu sei que posso confiar em você, meu filho! André arregalou os olhos e achou melhor ir dormir. Na semana seguinte, durante todos os dias, o pai de André usou indumentária feminina. O porteiro do prédio passou a freqüentar a casa. André resolveu voltar pra casa da mãe. O síndico do condomínio de seu pai já convocou uma reunião extra. Parece que eles precisam de um outro porteiro. Letícia era uma gata radical. Do tipo que apresenta programas esportivos nas redes de tevê a cabo. A última aventura que planejou foi atravessar o Pacífico sozinha numa prancha de windsurf.
- Que loucura, Lê! - Eu sei. Por isso mesmo que eu tou fazendo. Letícia se preparou meses a fio, ganhou patrocínio, virou capa da Playboy. Partiu do Chile numa bela manhã de sol em direção à Austrália. Tudo transcorreu muito bem, sem grandes percalços. Um dia, contudo, uma tempestade tropical fez Letícia naufragar, perder a maior parte do seu equipamento e quase morrer. Com muita sorte ela foi parar numa ilhota perdida no meio do oceano. A ilha era um atol, com uns 20 coqueiros e nenhuma água potável. Letícia sentiu-se miserável, mas não esmoreceu. Com engenho, construiu um abrigo e criou um jeito de destilar a água do mar. Sua alimentação consistia em peixe e coco. Sabia que cedo ou tarde uma equipe de resgate a encontraria. Um manhã, Letícia estava mergulhando atrás de uma tartaruga, quando percebeu que seu abrigo estava em chamas. Nadou até a areia, mas era tarde demais. Estava tudo destruído. A moça caiu em prantos amaldiçoando Deus e seu destino. Estava condenada. Enquanto chorava desesperadamente, ouviu uma voz em inglês. - Moça, vimos o seu sinal de fumaça, você está salva. Era um tripulante de um navio pesqueiro. Letícia agradeceu aos céus. Percebeu que o destino havia pregado uma peça. Feliz da vida, foi levada a bordo. A tripulação, composta só por homens que não viam mulher há semanas, não resistiu a beleza sarada da náufraga. Violentaram-na repetidamente, por fim a mataram, jogando seu cadáver no mar. - Senta aqui... Me faz carinho porque hoje eu tô precisando. Já tomei mil remédios pra curar minha dor de cabeça, mas hoje parece que ela não quer ir embora. Levou as crianças no colégio? Ótimo...fico mais tranqüilo...Sônia, faz um favor? Se eu partir, promete que cuidará bem deles. Que vai manter viva neles a chama do meu amor e de meu carinho. Eu quero que eles se tornem adultos responsáveis e plenos. Eu fiz muita besteira durante toda minha vida. Nunca fui correto e calmo. Você sempre foi carinhosa, presente, consciente sobre a real necessidade de nossos filhos...eu queria dizer que te amo sobre todas as coisas.
Sônia não dizia uma palavra. Ouvia chorando o que o marido tinha pra dizer. Estava sendo forte diante da morte do marido. Armando continuava: - Eu sempre me achei menor que você. Me casei contigo porque sentia que você podia me acolher melhor. Me segurar melhor. Eu sou um fraco, você sabe né? Quando a Rita nasceu, lá no hospital, você me olhava durante o parto e tinha uma cara linda, feliz...diante do meu choro e do meu medo, percebi que contigo era tudo mais simples. Eu te amo. Nunca se esqueça disso. Que isso, Sônia? Você tá esfregando a buceta na minha perna? Pra tudo tem hora, né? O erro Dona Lote andava com as economias apertadas e para remediar isso resolveu pôr para alugar uma pecinha nos fundos de sua casa no Méier. Entre os poucos candidatos a hóspedes que apareceram, ela escolheu Biel e Rafinha, dois estudantes do interior. Dona Lote não poderia ter sido mais feliz na escolha. Os rapazes eram um primor! Não fumavam, nem bebiam, tampouco usavam drogas. Não faziam baderna e nem traziam vagabundas para o cafofo. E nunca atrasavam o aluguel. Até as vizinhas, que eram umas chatas venenosas, elogiavam:
- Seus rapazes são uns anjos. dona Lote. - Dizia a piranha da Cleide, que não podia ver um homem na frente. - Umas moças. - Completava Silmara, escorrendo peçonha pelo canto das beiçolas. O que dona Lote não sabia é que os rapazes já tinham a maior fama de veado pelo Méier. Os garotos da região não perdoavam: - Lá vêm as bichas! E caploft! Um ovo voava no meio das melenas louras de um dos infelizes. Rafinha e Biel, nem se viravam, apressavam o passo e iam se esconder em sua pecinha. No último feriado, Dona Lote resolveu viajar para Muriqui com a família. Seus hóspedes optaram por pegar um solzinho nas areias do Leblon. Sexta de manhã, eles ajudaram a dona da casa a encher o porta-mala do Corsa, deram tchauzinho e pegaram o 476 em direção aos coliformes mais charmosos do Brasil. Rafinha e Biel passaram um dia maravilhoso na praia. Jogaram frescobol, compraram canga, comeram queijo assado, subiram e desceram o calçadão umas quatro vezes e ainda pegaram de graça um show da Marisa Monte. Quando a tarde ia caindo, decidiram assistir ao pôr-do-sol da pedra do Arpoador. Chegando lá, encontraram Marcão, o Turco, Ratazana, Leleco e mais uma galera do Méier fumando maconha nas pedras. Era o povo que costumava tacar ovo neles. Marcão gritou: - Aê galera, os boiolas da dona Lote! Ratazana emendou: - Vamos comer essas bichas de porrada! O povo todo concordou e circularam os dois garotos. Marcão liderando se postou na frente e preparou pra enfiar um direto no queixo do Biel. Mas não conseguiu. Biel e Rafinha se transformaram em luz e os agressores foram cegados imediatamente. Uma voz doce como flauta e estrondosa como um trovão ecoou pelos céus. - Os séculos passam e vós não aprendeis! Do céu, uma chuva de fogo caiu sobre o Rio de Janeiro e sua vizinha, Niterói, reduzindo-as a escombros e cinzas. Dona Lote e seus dois filhos escaparam incólumes em Muriqui. Contudo o marido dela, tinha voltado, por que finalmente um técnico da Telemar iria instalar o telefone no sábado pela manhã. Acabou virando uma estátua de sal. A Telemar nem apareceu. Michelly era uma garota cerveja. Tinha seios enormes e bunda idem. Era linda. Saiu do Rio Grande do Sul para conquistar o mundo. Conquistou o Brasil só, mas já tá bom. Filha de pais conservadores e com uma grande ambição, disse ao sair de casa: "Mãe, aquela saia preta tá limpa?" E foi.
Conheceu George na festa de uma agência de publicidade que ela não lembra direito o nome. E foi amor à primeira vista. Ele era o mais bem vestido e presidente de uma empresa de telecomunicações brasileira. Convidou a modelo, recém capa da Playboy, para sua casa, onde uns amigos estariam cheirando e bebendo o hype do momento. Ela aceitou o convite. Entrou no carro importado de George e subiu até a mansão. Chegando lá, não acreditou no que viu. Garotos pelados pulando na piscina e vários atores sem camisa dormindo nos sofás. Pensou por um momento que poderia ser a casa de Elton John (não, ela não pensaria isso). Tinha muitas senhoras também. Pareciam árvores de natal, cobertas de enfeites, ouro, perfumes e brilhos. A música clássica era o som ambiente. George procurou deixá-la à vontade: "Fique a vontade. Vá até o meu quarto. Suba essas escadas aqui". Quarenta minutos e nada de George aparecer. Michelly já tinha fuçado em tudo. Porta-retrato, cd´s, revistas importadas. Tinha até ligado o computador e jogado paciência. George bate na porta ao entrar: -Deixa de ser bobo, entra logo! -Não sei. Eu te pedi pra ficar à vontade. Se você tivesse levado isso a sério,... (Michelly põe o dedo na boca de George e sussurra) -Fica quieto. O melhor que você pode fazer agora é tirar a roupa. -Michelly, eu não sei se você percebeu. Mas eu sou gay. Namoro um deputado famoso e só te chamei pra festa porque te acho bonita. Além disso, presenças de capas da Playboy na mansão de um playboy, seria bem divertido (e riu). Michelly voltou para casa com um nó na garganta. Conheceu pela primeira vez um mundo que nunca sonhou existir. Morava sozinha e de repente sentiu saudades do ex-namorado que se parece com o porteiro. Sentiu saudades das panelas de feijão da mãe. Sentiu saudades de suas havaianas que ficavam na porta de entrada das casas que visitava e começou a chorar. Chorou, chorou, chorou. No domingo, foi chamada pra comer pizza no Faustão. Pôs o melhor vestido e foi. Falou de sua carreira, sentou-se ao lado do namorado da Marília Gabriela e pediu mais paz no mundo. Chegou em casa e a secretária eletrônica contava 28 recados. Dentre eles, o de sua mãe: "O Faustão é esquisito, né, minha filha? Parece uma pêra!". Valéria conheceu Hans na quadra da escola de samba. Hans era europeu, uns 40 anos mais velho, rico. Valéria havia tirado a sorte grande.
- Você não quer passar uma semana comigo no meu veleiro? Só eu, você e o Atlântico! - Claro! No dia seguinte eles já estavam no veleiro. E algumas horas depois no meio do oceano. Hans era o máximo e a tratava como uma princesa. Valéria se sentia nas nuvens. A noite caiu e os dois foram pra cama. Uma cama redonda e espelho no teto. A cabine do barco era praticamente um motel. - Algemas? - É. Gostou da surpresa? Valéria deu uma risadinha safada e deixou se algemar na cama. Hans deu uma cheirada numa carreira de cocaína, deu um gole no whisky e pulou em cima da mulher. Beijo aqui, beijo ali e de repente um grito. Hans fez uma careta e caiu morto. Faz três dias que o cara tá morto e Valéria presa. Ela se mira no espelho o tempo todo e começa a achar que o seu corte de cabelo está uma merda. Antônia descobriu o segredo da felicidade. Assim, de uma hora para a outra. Foi quando ela estava a conversar com Dagoberto no telefone. Dagoberto era gente boa, inteligente e talentoso, mas extremamente frustrado com a vida. Vivia reclamando. Isso já estava dando nos nervos da amiga. No meio da conversa, Antônia declarou:
- Beto, a vida é simples. Para que complicar? Dagoberto que só queria mesmo era desabafar e não ouvir lições de vida, concordou e desligou o telefone. Antônia, contudo, ficou com suas próprias palavras ecoando pela mente. Começou a pensar no assunto e viu que ela mesma complicava a própria a vida. Parou em frente ao espelho e olhou a vasta cabeleira que usava: - Meu deus, quantas horas eu gasto com xampus, secadores e cabeleireiros por causa desse cabelo todo! Ato contínuo, passou a tesoura nas melenas e as reduziu a zero. Marcos, seu namorado, se assustou quando viu Antônia em um visual skin head. Mas como a garota era meio parecida com a Letícia Spiller, não se importou muito. Nos dias seguintes, Antônia passou a examinar cada aspecto de sua vida e encontrou varias complicações desnecessárias. Pouco a pouco foi se desfazendo de objetos de sua casa, coisas inúteis, como quadros do Britto e uma faca elétrica que ela só usava no Natal mesmo. A casa foi ficando vazia. Só sobraram um colchão, um cobertor, um par de vestidos e chinelos. Marco já tinha ido embora muito antes disso acontecer. Antônia nem se importou, o relacionamento dos dois era complicado demais mesmo. No verão, Antônia se livrou dos vestidos e passou andar nua. Tentou fazer isso na rua, mas a polícia a deteve e chamou a família. Seus pais bem que tentaram fazê-la voltar a razão, mas a garota estava irredutível. Trataram de escondê-la no sitio que tinham em Seropédica. Semana passada, Antônia morreu. Comeu carne envenenada que algum vizinho deixou na lixeira para os cachorros vadios da região. O enterro foi uma coisa simples. Porque, afinal de contas, se a vida e simples, para que complicar a morte então? Zuma Nasceu no primeiro dia do ano de 1970. Seu pai, realmente não tinha nenhum respeito por ela. Zuma é sacanagem. A mãe até tentou um nome melhor..."não dá pra ser Asta, não, meu amor?" Zuma era muito simpática. Todo mundo gostava dela. Morou na Inglaterra durante 4 anos trabalhando como depiladora. Lá era novidade depilar virilha e ânus. E Zuma fazia isso como ninguém. Nos dias de chuva, ficava com Miles (seu namorado sujo) pelos pubs, bebendo até vomitar. Eles se davam muito bem. Tinham um amigo chamado Bob. Um modelo brasileiro que morava lá e transava com os dois freqüentemente.
Numa quarta-feira de tarde, Bob saindo mais cedo de uma sessão de fotos, resolve visitar Zuma, que abre a porta somente de calcinha. "Ah, que bom que você veio. Não tem nada de bom na televisão". Bob sorriu e começou a beijar ela pelada, ali na porta mesmo. Tirando a roupa rápido, deixou a garrafa de vinho que comprou no caminho, cair e quebrar no chão. "Ô caralho, o carpete tá limpo", reclama Zuma. Ele dá um tapa na cara dela e continua o amasso. Zuma crava as unhas na bunda dele e o joga no chão. Pega um cabo de vassoura e começa bater no modelo, que começa a sangrar. Miles chega a tempo para ajudar. Leva Bob desmaiado, pelado e molhado de sangue até o hospital mais próximo. Zuma chora muito. O amigo está com a cara irreconhecível. O nariz é quase carne moída. "Que aliás, é coisa rara na Inglaterra" - pensa Zuma, lembrando dos tempos que comia carne moída com purê no Brasil. Bob sai do hospital 3 semanas depois de muito soro e cirurgias. Tudo pago pela Ford Models, que iria demitir o modelo dias depois. Zuma, a pirada, começa a cheirar e se encher de brincos e tatuagens. Miles não a reconhece mais. Termina o namoro sem maiores explicações e deixa a polícia avisada. Bob nunca mais sequer ligou para os dois e está processando a amiga. A loucura momentânea da menina de Uberaba é inexplicável. Tédio? Frio? Muita chuva? Apartamento com baratas? Ninguém sabe direito. Puxando o histórico de Zuma, ela teve somente um desvio de personalidade aos 7 anos de idade. No colégio, quando chamada a atenção por não ter feito o dever de casa, furou o olho da professora com o lápis. Mas até aí, nada demais. A professora caolha continuou lecionando normalmente. A família de Zuma no Brasil, liga sempre. Estão preocupados com os ataques terroristas. "Calma, mãe. Não se preocupe... Olha, mês que vem eu tô voltando pra casa. Não agüento de saudades do Brasil...se puder, no dia da minha chegada, faz carne moída?" |